Call center: cenário perfeito para proliferação do coronavírus

Muita gente trabalhando junta. A poucos centímetros de distância. E compartilhando de tudo: mesa, cadeira, computadores, microfones, fones de ouvido e outros equipamentos. Os call centers são o cenário perfeito para a proliferação do novo coronavírus. Apesar das medidas draconianas necessárias à contenção da doença, locais assim continuam operando em plena capacidade. 

No Brasil, os trabalhadores do ramo, além da jornada extenuante, e pressão por metas, tem ainda um duplo temor: contrair a doença e perder o emprego. 

Os call centers são a porta de entrada de muitos brasileiros com qualificação mais baixa no mercado de trabalho. O setor emprega hoje mais de 1 milhão de pessoas. A maioria ganha um salário mínimo. A rotatividade é altíssima: 60% dos postos de trabalho se renovam em um ano. A categoria é dividida em três grandes ramos. As operadoras de telefonia móvel, os prestadores de assistência técnica (como internet e TV a cabo) e os serviços de telemarketing. Esses últimos são os mais vulneráveis, pois são quase sempre terceirizados, atendendo empresas de dentro e fora do país. Para evitar paralisações, o governo federal declarou os call centers serviços essenciais. 

Funcionários só são dispensados em caso de última necessidade. Embora as centrais telefônicas não tenham contato direto com o público, esses funcionários dividem material e trabalham muito próximos uns dos outros.

Precedente perigoso

Na Coreia do Sul, por exemplo, um call center provocou um salto nos casos de Covid-19. Foram confirmados mais de 90 ligados diretamente à empresa, cuja sede fica perto de um terminal que conecta a capital Seul a outras grandes cidades. Como muitos dos trabalhadores que apresentaram resultado positivo usaram metrô e ônibus, foi necessário um longo trabalho de desinfecção nas principais estações do sistema. Caso esse cenário dramático se repita no Brasil, a MP 927 abriu um precedente perigoso.

Caso contraia o vírus no trabalho, o funcionário pode ser demitido assim que voltar da licença médica. Na Europa, a garantia é de 60 dias. Além disso, a regulamentação trabalhista específica para os operadores de call centers não valerá para as situações de home office.

Por exemplo, a CLT estabelece que eles não podem trabalhar mais do que seis horas por dia. Caso passe disso, a hora extra é paga com acréscimo de 50%. Com as medidas excepcionais recém-definidas pelo governo Bolsonaro, as eventuais horas extras não terão esse acréscimo.

Assessoria de Comunicação

C/Informações da Carta Capital

27/03/2020 17:41:07

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